Moradores da Lagoa da Conceição registraram nas últimas semanas peixes, crustáceos e outros organismos mortos ou agonizando na região, além do mau cheiro. O Ministério Público Federal (MPF) cobra ações urgentes na região por parte da prefeitura de Florianópolis, Instituto do Meio Ambiente (IMA) e Casan. Há um mês, a lagoa artificial da Casan na Lagoa da Conceição, que recebia efluentes do tratamento de esgoto, se rompeu devido ao grande volume de chuvas, causando prejuízos ambientais e aos moradores. A companhia descarta relação entre os eventos e atribui o problema à abertura de uma vala com fluxo em direção à lagoa.
Em nota técnica, pesquisadores da UFSC e do projeto Ecoando Sustentabilidade apontam que o colapso de mortandade (grande número de mortes) de peixes e outros organismos na porção norte da Lagoa está relacionado ao rompimento da lagoa de evapoinfiltração da Casan, em 25 de janeiro, somado a outros fatores consecutivos. Com isso, eles observam o processo de intensificação da eutrofização, expansão da zona morta e ampliação das áreas de baixas concentrações de oxigênio. Entretanto, o documento aponta que “ainda há tempo para a remediação dos danos e para uma integral restauração dos produtos e serviços desta laguna”.
Entre as ações recomendadas, os pesquisadores falam na remoção imediata dos peixes mortos e da matéria orgânica acumulada para evitar o agravamento de problemas de saúde pública; interdição imediata do uso da Lagoa da Conceição para atividades como banho; e diagnosticar e tratar indivíduos afetados por toxinas de algas. Além disso, o monitoramento do ecossistema local e a não-realização de obras de dragagem ou alargamento do canal da Barra, uma vez que estes podem intensificar a influência marinha sobre a laguna.
O MPF em Santa Catarina enviou uma recomendação nesta quinta-feira (25/2) ao município de Florianópolis, à Fundação Municipal de Meio Ambiente (Floram), ao IMA e à Casan para que adotem medidas concretas e urgentes para remediar a poluição gerada na Lagoa da Conceição. Além disso, há a recomendação para que se avalie as propostas do projeto “Lagoa Azul da Conceição”, do Centro de Iniciativas Ambientais, Navais e Oceanográficas (Ciano) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que propõe solução à recuperação ambiental da Lagoa. Os órgãos têm prazo de 24 horas para informar oficialmente sobre a aceitação da recomendação.
Em nota, a Casan diz que as fotos e vídeos divulgados nas redes sobre o aspecto da água e peixes e outros organismos mortos na Lagoa não têm relação com o sistema de esgoto nem com o rompimento da lagoa artificial. A companhia aponta como problema uma vala de drenagem aberta na rua de acesso à Estação de Tratamento (ETE). “Barqueiros do terminal disseram aos técnicos da Casan, sem comprovar, que a Polícia Ambiental teria interrompido a operação dessas máquinas. Mesmo assim, constata-se que foi de fato aberta uma vala, criando um fluxo direto em direção à lagoa. Percebe-se também que a escavação movimentou uma grande quantidade de sedimentos, o que explicaria o impacto visual da água observado nos vídeos”, informa o texto.
Já o IMA informa que realizou vistorias aquáticas, aéreas e coletas laboratoriais de água e efluentes onde houve a incidência de organismos mortos ao norte da Lagoa da Conceição, na Praia do Saquinho e no entorno do Parque Estadual do Rio Vermelho. Após análise desses dados, o instituto e demais órgãos que participaram da fiscalização devem chegar à conclusão do que causou o acidente ambiental.
Por Ana Ritti – redacao@correiosc.com.br
