Em nova denúncia contra o serviço feito pela empresa Amazon Fort – a terceirizada que tem conseguido contratos sem licitação com o município de Florianópolis – moradores do Rio Vermelho reclamam que o lixo orgânico não é recolhido há mais de uma semana, desde o início da terceirização irregular.
Giseli Anversa, moradora do Rio Vermelho, relata que há uma semana não há coleta no seu logradouro. “O lixo está acumulado na rua. Para evitar que cachorros rasguem os sacos de lixo, estou recolhendo dentro de casa, mas isto atrai moscas. Na Dario Manoel Cardoso, a situação se repete”.
Ela afirma que tenta pedir junto com o marido explicações da Amazon Fort, mas são ignorados. “Eu e meu marido ligamos na Amazon Fort, porém a empresa não tem nenhuma estrutura de atendimento – se recusou a fornecer um número de protocolo e informar quando o lixo seria recolhido. Fizemos uma denúncia formal no portal Fala.BR, porém ainda não tivemos resposta”.
Não foi apenas no Rio Vermelho que a Amazon Fort não conseguiu fazer os roteiros. Em diversos outros bairros do norte da ilha, até mesmo em Jurerê Internacional, os lixos se acumulam nas lixeiras.
Prefeitura reconhece falha, mas minimiza
A gestão municipal reconhece as falhas no serviço, mas minimiza a precariedade ofertada pela terceirizada. Segundo explicação da prefeitura de Florianópolis, a Amazon Fort está em adaptação e “até o fim da semana tudo deve ser normalizado”. Em nota, a prefeitura também afirma que fiscaliza o serviço da empresa privada e que exige relatórios períodicos para conferir o andamento. Ainda segundo a prefeitura há ouvidoria para que qualquer dúvida ou reclamação seja formalizada, no telefone 0800-6431-529.
Uma terceirização para pior
A terceirização da coleta de lixo em Florianópolis, promovida pelo prefeito Gean Loureiro (DEM), tem sido boa apenas para a empresa contratada. Não é um exagero dizer isso.
São os fatos: prejudicou o serviço com uma empresa que ganhou contratos sem licitação (até agora em mais de R$ 4,2 milhões), encareceu a coleta, diminuiu salários dos garis e motoristas da Comcap (longe de serem “privilegiados”) e deixa uma empresa suspeita de irregularidades fazendo um serviço incompleto ou memsmo inexistente na cidade, ganhando contratos irregulares com a desculpa que se trata de uma situação “emergencial”. Não havia nada de emergencial para tirar a Comcap do norte da ilha e passar à Amazon Fort.
O prefeito força a barra contra a Comcap ao mesmo tempo que força a passagem de um serviço pior, com uma empresa suspeita. A população sente na pele as decisões escusas da administração municipal.
Se não são os moradores do continente e do norte da ilha reclamando dos erros na coleta, a prefeitura se limita a considerar que a terceirização é benéfica. Em termos de serviço, até agora a Amazon não chega nem perto da qualidade e dedicação da Comcap. E o peso de se equiparar esse serviço vai cair no colo dos funcionários da Amazon, de quem será cobrado uma melhoria, com salários piores.
+ Gean terceiriza coleta do norte da ilha sem licitação ao custo de R$ 2,7 milhões
A terceirização da coleta de lixo em Florianópolis foi um pedido de Gean Loureiro atendido pela sua base de vereadores em janeiro de 2021. Com a aprovação da lei para “combater privilégios”, entrou o detalhe milionário: o prefeito conseguiu alterar o artigo que afirmava que a coleta de lixo é exclusiva da Comcap em Florianópolis. Com isso, teve o aval da câmara para terceirizar a coleta de lixo.
Mas, por uma razão que apenas os seus próximos conhecem, o prefeito resolveu forçar a terceirização sem o devido procedimento de escolha pública com uma empresa única, o que está em análise no Tribunal de Contas do Estado. Gean passou a dar os contratos sem licitação apenas para a Amazon Fort, empresa que tem se mostrado incapaz de fazer o serviço.
Não bastasse as suspeitas de irregularidades levantadas pelo TCE e a proibição da terceirização determinada pelo TRT, o prefeito determinou em julho que a empresa ganhe R$ 2,69 milhões para fazer a coleta em alguns bairros do norte da ilha, o que pegou a Comcap de surpresa. Em denúncias nas redes sociais, os funcionários da autarquia têm mostrado como a empresa privada desconhece as rotas das coletas de lixo e quando as faz, não completa o serviço, já que os funcionários da terceirizada não pegar “sacos de lixo pesados” e a Comcap acaba tendo que refazer o serviço mal feito pela Amazon.
O resultado das imposições de Gean Loureiro tem se refletido na casa das pessoas, com o acúmulo de lixo, que a prefeitura parece não se importar. Na semana passada a Amazon foi flagrada também no bairro Rio Vermelho fazendo o transbordo irregular de lixo, amontoando sacos em uma servidão, desleixo que a Comcap não fazia. Para a prefeitura, o procedimento foi normal.
Sobre a decisão do TRT em proibir a terceirização diante do acordo coletivo de trabalho, a prefeitura tem até 28 de setembro para apresentar recurso. Já o péssimo serviço da Amazon pode resultar em nova greve da Comcap.
Por Lucas Cervenka – reportagem@correiosc.com.br