Um produtor cultural que encontrou uma mochila durante o Carnaval no Centro de Florianópolis foi espancado ao tentar entregá-la para policiais militares em uma viatura. O caso aconteceu na madrugada de terça-feira (21), por volta de 2h30, n Centro-leste.
Segundo o produtor, que trabalhou em evento na Rua Vitor Meirelles, com o encerramento da festa no horário combinado com a prefeitura, e a dispersão do público nas vias da região central, a rua esvaziou e os bares foram fechados. Foi então que encontrou uma mochila próxima à área do evento, em frente à Escola Antonieta de Barros.
Sem saber seu conteúdo pegou o objeto e avistou três viaturas da Polícia Militar de Santa Catarina circulando com giroflex ligado, que atuavam dispersando os foliões do entorno da Av. Hercílio Luz.
O homem, então, teria feito sinal para o primeiro carro, na tentativa de conversar com os policiais. Conforme seu relato, no segundo veículo que passava na esquina das ruas Saldanha Marinho com Victor Meirelles, ele conseguiu pará-lo, porém os policias não gostaram da abordagem.
Logo, quatro militares desceram do carro e um deles perguntou: “Tu é louco de tentar parar uma viatura?”, segundo o produtor cultural. Em seu relato, a vítima afirma que “sim, fui louco em tentar parar uma viatura. E por isso levei 8 cassetadas nas costas. Tempo suficiente para eu entender o que se passava e berrar: ‘Tô trabalhando no evento. Estou com o segurança ali’.” Os militares então pararam a violência física e seguiram na viatura.
Segundo ele, por causa das batidas ficou atordoado e com uma “imensa sensação de incapacidade”. Voltou à pé para casa, “torcendo para não reencontrar nenhuma viatura”. No dia seguinte não conseguiu trabalhar por causa dos machucados na região lombar (foto).
O que diz a Polícia Militar
A reportagem questionou o comando do 4º Batalhão da PM, responsável pela segurança na região central de Florianópolis, sobre o motivo do espancamento. Conforme nota do comandante, tenente-coronel Dhiogo Cidral, a PMSC foi informada de que um boletim de ocorrência foi registrado apenas às 13h57 desta quinta-feira (23/2), na Polícia Civil, e ainda não foi remetido à Polícia Militar para apuração.
“Pelo narrado, e pela natureza da suposta agressão, será feita a apuração dos fatos mediante procedimento investigatório, sendo chamado todos os envolvidos”, respondeu o comandante.
+ Prefeitura pretende manter restrições no Carnaval 2024 de Florianópolis
Violência policial incomodou
A violência policial não ocorreu apenas nesse episódio no Centro de Florianópolis no Carnaval. Em Santo Antônio de Lisboa, onde ocorre tradicional bloco de festas durante os dias de carnaval, o uso da força por parte da PMSC contra foliões e pessoas que queriam atravessar o centrinho a pé de madrugada gerou muitas críticas, por ser considerada uma reação violenta e desproporcional.
Segundo a manifestação do comandante da 1 ª RPM (Região de Polícia Militar) nesta quarta-feira (22) na Prefeitura de Florianópolis em balanço sobre os dias de carnaval, a corporação procurou fazer uma abordagem humanizada com os foliões nesse ano. “Nesse sentido a harmonização dos processos fez toda a diferença. Eu to muito feliz nesse sentido. Nossos policiais foram orientados nesse sentido, a guarda municipal foi orientada nesse sentido. E o trato não só com nosso morador local, mas com os turistas, fez todo o diferencial”, declarou o tenente-coronel Julival Santana.
A seu favor a Polícia Militar catarinense tem os resultados da capital no período com números zerados de latrocínios, homicídios ou brigas generalizadas. Por outro, há diversas críticas sobre a violência contra foliões e falta de ação contra roubos de celulares. O produtor, em seu relato, também reclamou que frequentadores da Rua Victor Meirelles também tiveram celulares roubados. A PMSC afirma que o número de furtos de aparelhos caiu 61% (em relação a 2019).
Posteriormente o dono da mochila voltou para recuperá-la às 4h.
Por Lucas Cervenka – reportagem@correiosc.com.br