O rompimento de um reservatório novo da Casan no bairro Monte Cristo, em Florianópolis, atingiu entre 100 e 150 famílias no entorno, número maior do que o incidente na Lagoa da Conceição, em janeiro de 2021, quando 150 pessoas foram diretamente afetadas. A quantidade de moradores afetados no Continente ainda está sendo contabilizada.
Era por volta de 1h45 desta quarta-feira (6/9) quando a parede lateral do novo reservatório rompeu e varreu as ruas abaixo, destruindo dezenas de carros e danificando imóveis. Moradores foram acordados pela enxurrada, com a água invadindo suas residências. Por pouco alguns não se afogaram, mas não houve vítimas fatais.
A enxurrada de aproximadamente 2 milhões de litros de água tratada foi mais intensa nas ruas Professora Maria Barbosa Ribeiro e José Luiz Vieira, mas afetando imóveis próximos da comunidade do Sapé.
A caixa d’água que abastece a região estava com apenas 25% da capacidade total, de 8 milhões de litros, e havia passado recentemente por reparos. A estrutura era nova, inaugurada em março de 2022, através de financiamento de R$ 6,6 milhões. Moradores relatam, porém, que já haviam registrado vazamentos no entorno.
Donativos
Com centenas de pessoas afetadas, muitas que perderam tudo que tinham em casa, estão recebendo apoio na Capela Rosa Mística, na Rua José Gasparino Dutra, Nº 249, onde foi montado um centro de acolhimento cerca de 15 minutos após a enxurrada. Diversos líderes comunitários e religiosos, de diferentes ordens religiosas, reuniram-se no local já de madrugada para prestar socorro aos enfermos. Nesse local há o recebimento de doações, principalmente alimentos, roupas e produtos de limpeza, além dos pontos da rede Somar, da Prefeitura de Florianópolis. Algumas pessoas estão abrigadas na capela – a Casan, que coordena o trabalho de acolhimento, também irá disponibilizar hospedagem em 4 hotéis na região a quem precisar.
Governador presta apoio
O governador, Jorginho Mello, esteve no local durante a manhã para avaliar pessoalmente os estragos e prestar solidariedade e apoio às pessoas atingidas. Em entrevista, Jorginho afirmou que a companhia deve arcar com os custos: “estamos determinando providencias urgente, sem enrolação , sem perder tempo, agora todo mundo tem que ser responsável pelo que é, a Casan é a responsável pela água, pelo saneamento e vai ter que arcar com a sua responsabilidade sem dúvida nenhuma”.
Companhia não tem seguro
A estrutura, assim como as demais da companhia, não tem seguro, o que deve aumentar o prejuízo e, ao cabo, ser pago pelos contribuintes. A reportagem questionou o presidente da Casan, Edson Moritz, sobre o assunto.
Correio – A Companhia possui algum tipo de seguro de estrutura?
Moritz – Não. Essa é outra coisa que assim que eu cheguei foi ver se tem seguro ou não. Como não há obrigatoriedade legal, ao contrário da Celesc, que tem obrigatoriedade legal, a Casan não tem seguro. E aí eu pergunto por que não tem?
Correio – Então o prejuízo é da Casan e vai ter que ser refeito toda essa estrutura?
Moritz –O prejuízo é da Casan, e vamos verificar o que vamos fazer com essa estação de tratamento. A gente tem uma antiga que foi reforçada recentemente e vamos ter que repensar um todo aqui, se vai ser aqui, se vai ser em outro lugar ou se vamos achar outra alternativa.
Correio – Essa estrutura estava em reforma, estava passando por algum tipo de reparo mesmo sendo uma estrutura nova. O que a Casan pode dizer sobre isso?
Moritz – Eu pessoalmente não tenho essa informação para dar agora, estou há uma semana na Casan, como presidente da Casan, onde a gente tem uma noção de todos os processos, chegando aqui, conversando com as vítimas que tiveram aqui. Estive diretamente lá na igreja e eles me disseram exatamente isso, não é a primeira vez, já tinha denúncias, já tinha queixas e isso não foi processado diretamente na Casan. Se tivesse sido processado e alguém não tomou providência é corresponsável ou responsável direto. O que é inegável é que é uma estrutura que foi inaugurada em março de 2022, isso não tem possibilidade, a causa vai ser detectada no inquérito, é tão obvio o que aconteceu, não precisa nem ir muito longe. O que aconteceu com uma estrutura dessa aqui que tem um anos e seis meses e colapsa desse jeito? Isso vamos buscar agora com toda a ênfase. O governador reiterou isso para todo mundo. Vencida essa etapa que é cuidar das pessoas e fazer as pessoas tentar a voltar à situação minimamente normal, paralelamente já estou dando uma ordem aqui para poder iniciar esse processo e fazer essa apuração técnica e vamos apurar os responsáveis.
Enquanto as pessoas eram atendidas e as ruas desobstruídas, a Polícia Científica já havia iniciado a perícia. Agentes estiveram no local do rompimento avaliando a parede tombada, as espessuras do aço da armação e coletando dados para entender qual foi o motivo do colapso do reservatório.
Equipes trabalham na desobstrução e limpeza da Rua José Luiz Vieira, uma das mais danificadas pela enxurrada após rompimento de reservatório da Casan na madrugada de 6 de setembro. Até 150 famílias foram atingidas. pic.twitter.com/I6djOmVmK1
— Correio de Santa Catarina (@CorreiodeSC) September 6, 2023
Por Lucas Cervenka – reportagem@correiosc.com.br