Os objetivos de desenvolvimento sustentável, as Metas de Aichi e as áreas protegidas foram temas amplamente debatidos no IX Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), que ocorreu em Florianópolis nesta semana.
Na quarta-feira (1/8), o painel “Conexão entre Conservação e Geração de Valor à Sociedade” contou com cinco especialistas para debater a relação entre saúde pública e áreas de proteção ambiental. O debate foi moderado por Miguel Milano, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.
O primeiro a falar foi Bráulio Dias, da Universidade de Brasília, que reforçou a necessidade de ligar os temas biodiversidade e meio ambiente ao bem-estar da população. Dias apresentou seus trabalhos demonstrando a melhoria da qualidade de vida daqueles que têm contato direto com áreas verdes.
“Com essas pesquisas fica claro que o meio ambiente não é assunto da maior prioridade em todo o mundo, mas saúde sim. O que falta, portanto, é investir no melhor uso das áreas protegidas, o que contribuiria para a diminuição dos custos públicos para tratamento de saúde e na diminuição de doenças, consequentemente”, destacou o pesquisador.
Dias também lembrou de trabalhos das ONU nesse eixo do “One Health” (saúde única), que interligam saúde humana com a saúde animal e ambiental. “Já passou da hora de percebermos a clara relação das doenças com o meio ambiente, a exemplo da febre amarela, dengue, entre outras”, elencou.
Lista verde
Durante sua apresentação, Alvaro Vallejo, da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), falou sobre Governança Internacional, desenvolvimento sustentável e conservação da natureza, mostrando como funciona o trabalho da IUCN no mundo pela categorização e modelos de governança das áreas protegidas.
Atualmente, a organização desenvolveu um marco para análise e avaliação do manejo de áreas protegidas, criando o programa Lista Verde, que tem sido adotado por vários países e dá reconhecimento positivo para áreas que têm uma boa governança. “Essa lista é como a nossa Lista Vermelha (de espécies ameaçadas), que dá o sinal de que algo não está indo bem. Mas, no caso da Verde, alertamos positivamente para as áreas com boa gestão”, explicou Vallejo, afirmando também a inclusão de áreas na lista verde pode permitir que o país alcance metas exigidas e construa novas redes de áreas protegidas.
Unidades de Conservação
Ainda no painel do CBUC, José Pedro de Oliveira Costa, da Secretaria de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, afirmou que existe a intenção de aumentar os hectares de áreas preservadas no Brasil, citando o santuário de baleias do Atlântico-Sul, projeto que pretende proteger pelo menos 51 espécies de baleias e golfinhos. A criação do santuário é tentada pelo Brasil desde 1998, mas vem sendo barrada pelo lobby de alguns países, como o próprio Japão.
Na região da Grande Florianópolis são ao todo 37 unidades de conservação, entre municipais, estaduais, federais e reservas particulares. Somente em Florianópolis são 25. A maior reserva catarinense, o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, cobre 1% do território do estado, abrangendo oito municípios da região.
Também na região, há cinco unidades de conservação federais: APA Baleia Franca, ESEC Carijós, RESEX Marinha do Pirajubaé, APA de Anhatomirim e REBIO Marinha do Arvoredo, que totalizam 178 mil hectares em terra e mar.
Metas de Aichi
Na 10ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP-10), realizada na cidade de Nagoya, Província de Aichi, Japão, em 2014, foi aprovado o Plano Estratégico de Biodiversidade para o período de 2011 a 2020. Este plano, que prevê um quadro global sobre a diversidade biológica, busca estabelecer ações concretas para deter a perda da biodiversidade planetária.
A meta 14 trata da saúde: “Até 2020, ecossistemas provedores de serviços essenciais, inclusive serviços relativos a água e que contribuem à saúde, meios de vida e bem-estar, terão sido restaurados e preservados, levando em conta as necessidades de mulheres, comunidades indígenas e locais, e os pobres e vulneráveis”.
Em relatório divulgado em maio, a Organização Mundial da Saúde afirma que nove em cada dez pessoas no mundo respiram ar com altos níveis de poluentes. As estimativas atualizadas mostram que sete milhões de pessoas morrem a cada ano por poluição do ar ambiente (interna) e doméstica.