Duas hipóteses para a cor marrom-avermelhada da Lagoa do Peri

    Manancial que abastece 100 mil pessoas está desde março com cor fora do normal

    Imagens de satélite mostram mudança na coloração da lagoa de peri
    Imagens de satélite mostram mudança na coloração da Lagoa do Peri, que agora está com tom "enferrujado" - Fotos: Google Earth e Anita Martins/Divulgação/CSC

    A maior lagoa de água doce da costa catarinense é responsável pelo abastecimento de água de uma população estimada em 100 mil pessoas no leste e sul da Ilha de Santa Catarina. O manancial, porém, está com a água alterada para uma coloração marrom-avermelhada e ainda não há respostas concretas sobre o que está provocando a alteração.

    Na madrugada de 1º de maio desse ano a Casan, que capta água do local para abastecimento, se deparou com o problema no segmento do flotador, segmento do tratamento. “Para a gente era comum observar essa camada sempre verde, e naquele dia o operador me ligou logo cedo e falou ‘olha, está vermelho’”, relatou bioquímico Rafael Prim, do setor de Operação da companhia.

    Diversas análises de água foram realizadas, muitas delas apontando que a água está dentro de parâmetros aceitáveis, mas a causa da alteração de cor da lagoa, que teve primeiros indícios em março, ainda não foi identificada e permanece um mistério.

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    “A gente coleta amostra a cada duas horas para análises. O que mudou realmente foi a cor, que passou de 50, 60 unidades de cor, para 100”, diz o técnico, concluindo que não há indicação de prejuízo para a saúde humana com a água no tom foral do normal.

    A situação da Lagoa do Peri, no Sul da Ilha, foi tema de audiência pública nesta quinta-feira (21/9) na Alesc, por proposição do deputado Marquito (PSOL), presidente da Comissão de Turismo e Meio Ambiente, em busca de respostas. “É um ambiente muito sensível. Então a partir da alteração da coloração a gente fica muito preocupado com os possíveis desencadeamentos dessa alteração”.

    Fatores de influência

    Segundo o professor Paulo Horta, do Programa de Sustentabilidade da UFSC, o cenário que resulta na alteração é complexo e está relacionado com mudanças climáticas, na temperatura, quantidade chuva e na disponibilidade de matéria orgânica e ferro na água da lagoa.

    Ele reforçou que a água não representa problema para o consumo, mas o aumento da turbidez pode resultar em problemas maiores, como diminuição da quantidade de oxigênio na água – “isso, a médio e longo prazo, pode induzir um processo de eutrofização, o que podem comprometer o abastecimento”.

    O professor de Ficologia da UFSC, Leonardo Rubi Rörig, apontou mais alguns fatos que envolvem o manancial, além da mudança de cor, como o aumento da temperatura do ar nesse ano, o desaparecimento da “franja” do capim-peri, diminuição de algas, cianobactérias e na vazão anual da lagoa. Outro dado importante encontrado é que estruturas provavelmente biológicas (como tipos de bactérias) estão com padrão anômalo “Essas estruturas normalmente são as que mais geram cor na água”

    Hipóteses

    Sem dados conclusivos, os especialistas apontam para duas hipóteses atualmente sobre o que está acontecendo com a Lagoa do Peri. Uma é de ordem geoquímica, que já foi verificada em lagos da Suécia, que tem a ver com a quantidade demandada pela matéria orgânica no fundo da lagoa para sua decomposição, fazendo com que o ferro e outros elementos subam se espalhem na água; a outra reúne fatores biogeoquímicos, que é a presença das estruturas filamentosas que podem estar crescendo por alterações físico-químicas na água.

    Para o professor Paulo Horta a mudança na cor é um alerta e precisa de uma mobilização social maior, o que foi corroborado na audiência. Segundo o deputado Marquito, será criado um grupo de trabalho para que o monitoramento da Lagoa do Peri forneça publicamente os resultados; ele também pede pela execução prática do decreto assinado entre prefeitura de Florianópolis e Casan para que a empresa pague cerca de R$ 50 mil por mês ao município de forma a investir em ações de conservação do manancial.

    Por Lucas Cervenka – reportagem@correiosc.com.br

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