A escalada de tensão entre a Comcap, a prefeitura de Florianópolis e a câmara de vereadores ganhou força durante a semana, a partir da deflagração de greve dos funcionários da autarquia. Com o pacote de reformas do prefeito Gean Loureiro (DEM) prestes a ser votado pelo legislativo nesta terça-feira (26/1), foram registrados ataques contra vereadores, contra os veículos da empresa terceirizada e contra o presidente do sindicato.
Uma das propostas do pacote se refere às mudanças na estrutura e remunerações na Comcap. O Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis (Sintrasem) deflagrou greve na semana passada contra os cortes, que afetam principalmente os salários altos de gerências e as horas extras dos garis. O contexto político, porém, não é de debates, e sim de embates.
Na madrugada de sexta-feira para sábado (23/1), houve uma tentativa de atear fogo no portão de uma propriedade do presidente da câmara, Roberto Katumi (PSD). Na quinta-feira (21), um artefato explosivo foi arremessado em direção a casa do vereador Dalmo Meneses (DEM), que registrou um boletim de ocorrência. Já na quarta-feira (20), a farmácia do vereador Renato Geske (PSDB), líder do governo e relator da comissão especial que avalia o pacote, foi atingida por uma pedra que quebrou a vidraça. A Polícia Civil investiga a autoria do atentado e já tem a placa do carro que teria transportado o suspeito.
O Sintrasem nega envolvimento com os ataques às propriedades dos vereadores. A prefeitura ainda acusa o sindicato de destruir vidros da porta de seu edifício, depredar caminhões dentro do pátio da Comcap, além de tentativas de arrancar fios de caminhões da coleta terceirizada pela prefeitura e uso de pregos na estrada para furar pneus (miguelitos) durante a madrugada de domingo para segunda-feira (25). “A tentativa de sabotar a coleta de lixo na cidade, mesmo após um dos piores dias enfrentados por Florianópolis por conta da forte chuva, prejudica ainda mais a situação das ruas e o trabalho do município na recuperação da cidade”, diz nota da prefeitura.
Já do lado do sindicato, a residência do presidente do Sintrasem, Renê Munaro, foi atingida por um artefato explosivo durante a madrugada de sábado. Somente seus familiares estavam no local no momento do ataque e ninguém se feriu. Um boletim de ocorrência foi registrado na manhã de domingo.
Os servidores da Comcap estão em greve desde a semana passada contra o pacote, realizando atos pela cidade. O Tribunal de Justiça do estado diz que a greve é ilegal e na última semana aumentou o valor da multa diária por descumprimento para R$ 200 mil, decretando inclusive o bloqueio da verba.
Tanto prefeitura, quanto Comcap associam os ataques e a escalada de tensão como formas de intimidação em relação ao pacote de reformas que será votado na manhã desta terça-feira em sessão extraordinária, às 9h. Entre os seis projetos propostos pelo prefeito está o que provoca alterações dentro da Comcap. A autarquia passaria a ser vinculada nas atribuições legais à Secretaria de Infraestrutura e no cumprimento dos serviços à Secretaria de Meio Ambiente. Além disso, ocorreria a diminuição do adicional de férias, do valor pago pelas horas extras, do vale alimentação, entre outros benefícios dos funcionários da Comcap, a fim de equiparar a remuneração dos servidores municipais. A prefeitura diz que isso resultará em R$ 20 milhões de economia anual na Comcap.
Os vereadores da base do executivo se posicionam favoráveis à mudança como uma forma de acabar com o que chamam de privilégios dentro da Comcap. Já o sindicato e alguns outros vereadores de oposição alegam que os benefícios da categoria foram conquistados por meio de acordos coletivos, acusando o prefeito de descumprir promessas firmadas com os trabalhadores da categoria.
Nesta segunda-feira a Câmara de Florianópolis reúne uma comissão especial, às 17h, para análise e discussão dos pareceres de vistas. O Sintrasem quer que o pacote seja retirado de votação e a prefeitura diz que não a mínima possibilidade nesse sentido.
Por Ana Ritti – redacao@correiosc.com.br
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