Gean Loureiro terceiriza coleta no norte da ilha sem licitação e equipes “disputam” serviço

Retrato da ingerência sobre a coleta de lixo em Florianópolis: duas equipes, da Amazon e da Comcap, trabalhando simultaneamente na mesma rota

duas equipes de coleta de lixo na mesma rua em florianópolis, uma da comcap, outra da terceirizada, ao fundo
Duas equipes atuam simultaneamente na mesma rota de coleta no norte da ilha, uma da Comcap, outra da Amazon Fort - Sintrasem/Reprodução/CSC

A empresa Amazon Fort começou a fazer a coleta de lixo no norte da ilha de Florianópolis na madrugada de domingo (5/9). Não houve aviso ou licitação para a transferência do serviço da Comcap para a mesma empresa que faz a coleta no continente e diante de determinação judicial em contrário. A prefeitura afirma que não há qualquer irregularidade.

Na segunda-feira (6), funcionários da Comcap foram surpreendidos com a terceirização relâmpago e sem aviso prévio. Quando chegaram para trabalhar não havia as chaves dos caminhões de lixo e estavam sendo transferidos para outros locais da cidade, com a explicação de que a Amazon Fort assumiu a coleta em Jurerê, Canasvieiras e Ingleses.

Quando caminhões da Amazon Fort tentaram acessar o Centro de Valorização de Resíduos (CVR), no Itacorubi, nesta segunda-feira (6) à noite, funcionários da Comcap impediram a entrada da terceirizada. A prefeitura chamou a Guarda Municipal para tentar intervir a favor da companhia privada. Os empregados da Comcap afirmam que a empresa terceirizada não pode utilizar os equipamentos da autarquia e que a prefeitura de Florianópolis deve seguir a determinação da Justiça do Trabalho e anular imediatamente os contratos com a empresa particular.

Publicidade

Em 1º de setembro, o TRT da 12ª região determinou que o acordo coletivo 2019/2021 dos funcionários da Comcap deve ser seguido pela prefeitura, o que significa que a terceirização, mesmo que autorizada pela câmara de vereadores em janeiro de 2021, não poderia ocorrer, porque os direitos trabalhistas do pessoal da autarquia Comcap estão assegurados no plano de carreira. A prefeitura não confirma se recorre da decisão, que prevê multas de até R$ 100 mil por funcionário irregularmente terceirizado.

Duas equipes simultaneamente na mesma rota

Mesmo com determinação judicial contrária à terceirização e indícios de irregularidades, a gestão de Gean Loureiro continua ampliando a terceirização. No domingo uma cena gravada em Jurerê sintetiza a ingerência municipal sobre a coleta de lixo: ao mesmo tempo duas equipes atuam na mesma rua, uma da Comcap e outra da Amazon Fort, em “disputa” pelos resíduos.

A prefeitura fez a terceirização da coleta de lixo no norte sem licitação, ao custo de R$ 2.691.000,00 por seis meses e diretamente para a Amazon Fort, empresa investigada em outros estados por irregularidades. Segundo breve comunicado no diário oficial de 30 de julho, a dispensa de licitação se justifica “até a finalização do processo licitatório”. A prefeitura diz que o Contrato 569/SMMA/2021 é “emergencial”, apesar de a Comcap fazer normalmente a coleta na região.

Problemas contratuais

A terceirização da coleta de lixo da capital ainda tem outros problemas. A transferência do serviço na região continental para a Amazon Fort foi feita pela gestão de Gean Loureiro sem licitação, contratos foram aditivados duas vezes, renovados sem licitação e além do prazo inicialmente estipulado. O Tribunal de Contas do Estado analisa supostas irregularidades nessa terceirização. Questionada, a prefeitura não emitiu qualquer nota informando sobre a nova área tercerizada, no norte da ilha, e a justificativa para fazê-la sem licitação.

Uma das justificativas que a gestão de Loureiro havia dado no início do ano para a terceirização é que iria “combater privilégios” na Comcap e que a coleta seria mais barata por tonelada de lixo. Porém, como a Amazon continua usando equipamentos da Comcap para fazer o serviço, o cálculo de economia feito pela prefeitura é limitado à quantidade de dinheiro transferida diretamente à Amazon Fort, sem levar em conta toda a infraestrutura necessária.

Prefeitura diz que não é irregular

Com uma notificação extrajudicial ameaçando processar o Correio de Santa Catarina dentro de 24h, a prefeitura de Florianópolis afirma: “não há qualquer ilegalidade que recaia sobre a contratação da empresa Amazon Fort, bem como que inexiste qualquer vedação legal ou judicial a terceirização dos serviços outrora prestados pela COMPCAP (sic)”.

A argumentação da prefeitura é de que a terceirização não é irregular e que não há qualquer indicídio nesse sentido. Também que “Não houve determinação de cumprimento imediato (tutela de urgência) quanto à condenação da requerida em abster-se de promover terceirização não autorizada pela Cláusula 27ª do Acordo Coletivo de Trabalho”.

Por Lucas Cervenka – reportagem@correiosc.com.br

Publicidade