Mais uma vez as ruas e avenidas da cabeceira da Ponte Colombo Machado Salles até às vias dentro dos bairros de Palhoça, São José e Biguaçu ficaram travadas em um imenso engarrafamento, na noite desta sexta-feira (21/7).
A abertura do Contorno Viário da BR-101, ainda prevista para dezembro de 23, poderá significar uma melhoria, mas não será suficiente para resolver o fluxo entre a ilha e as cidades da região.
O volume de veículos particulares, principalmente, demonstra que não há solução de mobilidade para a Grande Florianópolis que não seja a implantação concreta de transporte coletivo de qualidade.
Na noite desta sexta, havia tanto coletivos lotados, com pessoas em pé, quanto ônibus vazios. Todos igualmente presos no trânsito, repleto de sinfonia de buzinas, bate-bocas, pequenas colisões, carros passando pelos canteiros. Duas a três horas desse cenário, se não mais.
Mesmo sendo essencial, com grandes estudos montados na última década, o transporte coletivo é o item que não consta na lista dos gestores para investimentos na região, por ora. Trocam os nomes nos cargos e o problema não apenas persiste, como piora.
Congelado há quase 8 anos, o Plamus (Plano de Mobilidade Urbana Sustentável da Grande Florianópolis) fará 10 anos no ano que vem, tendo existido apenas no plano teórico e financeiro (gasto de R$ 10 milhões). Bom ou não, o projeto era algo a ser feito para melhorar mobilidade. Melhor do que o nada atual.
Na manhã dessa sexta, dia do megaengarrafamento, o próprio governador, Jorginho Mello, no evento público de demonstração de investimentos na região, falou que reconhece a pauta do transporte coletivo como necessária, porém sem discussão no momento:
Correio – Há muitos anos existe a demanda de um transporte coletivo integrado; o governo do estado tem alguma pauta pra solucionar essa questão dos ônibus, especialmente na região metropolitana?
Jorginho Mello – Estamos reunindo todas as demandas, e também passa por isso. Acho que o transporte integrado é um sonho que a gente tem que perseguir. Existia em Santa Catarina uma superintendência de região metropolitana da Grande Florianópolis. Agora nós transformamos em superintendência metropolitana do estado de SC, pra ter mais força, mais musculatura, pra gente poder pensar todas as regiões como alternativas, sobre habitação, principalmente sobre transporte. Temos que melhorar a qualidade do transporte urbano para que a gente minimize um pouco o acúmulo de veículos. A mobilidade é muito ruim. A ilha só tem uma entrada, precisamos encontrar alternativas. E o grande desejo é fazer um transporte integrado entre todos os municípios da Grande Florianópolis, da associação fazer uma espécie de um consórcio pra facilitar investimento, fazer uma obra, não precisa nem ser de curto prazo, a gente não precisa pensar só no amanhã, a gente tem que pensar 10, 20 anos pra frente. E isso vai ser fundamental a gente amadurecer essa ideia junto com os prefeitos pra fazer um metrô de superfície. Tem que encontrar mecanismos pra facilitar a vida das pessoas que precisam do transporte público. […] mas nós nem tratamos com os prefeitos isso ainda.
Pedidos de obras
Esse evento foi uma prévia para a reunião do governo estadual com cada prefeitura, de modo a entender o que cada prefeito quer de investimento e o que o estado poderá contemplar no momento.
Os pedidos dos prefeitos da Grande Florianópolis ao governador versam sobre obras, paralisadas ou reduzidas por causa do fim do Plano 1000 no final do ano passado. Alguns até arranham na questão da mobilidade urbana, como abertura e/ou ampliação de vias.
Na lista de pedidos da prefeitura de São José, por exemplo, consta investimento para ampliar o aeroclube, além de convênios para obras em ruas, continuidade da Av. Beira-Rio e apoio para construção da Av. Beira-mar de Barreiros, que também depende de Florianópolis e da boa vontade da Marinha – que inclusive não retorna pedidos da reportagem sobre o assunto. Na capital os pedidos foram para a ponte da Lagoa e outras obras menores. Palhoça voltou a insistir em cometer uma barbaridade ambiental para construir uma estrada dentro da uma unidade de conservação integral, sonhando que um dia a Pinheira terá o mesmo modelo imobiliário de Balneário Camboriú.
Do ponto de vista dos prefeitos, as obras são importantes para capitalizar votos no ano que vem (nas quatro maiores cidades da região, os chefes municipais podem tentar a reeleição). Porém, o grande feito de um político por aqui, uma consagração concreta, seria resolver o transporte coletivo. Não parecem lembrar disso.
Por Lucas Cervenka – reportagem@correiosc.com.br