A diferença básica entre as pirâmides de pedras do Egito e as modernas construções de concreto é que essas últimas não são quase eternas. Abandone um prédio à própria sorte e verá, em quarenta ou cinquenta anos, ele começar a se desmanchar aos poucos. A queda de uma ponte na Itália, no início da semana, demonstra bem isso. Lá, tal como aqui, governos se sucederam e deixaram de investir corretamente na manutenção da estrutura, permitindo que a deterioração avançasse. Lá, terminou em tragédia. Aqui, ainda em tempo de evitar o pior, finalmente, o Poder Público acordou para o problema.
A contratação de duas empresas para realizar a manutenção das pontes Colombo Salles e Pedro Ivo (uma delas para executar o serviço e a outra para fiscalizar a execução), foi uma decisão salutar. Porém, como quase tudo nesse país, demorou demais. A exemplo do que já ocorre com a restauração da ponte Hercílio Luz, o resultado será que o custo final da obra, provavelmente, ultrapassará o dobro do que valeria, caso existisse um plano de manutenção constante da estrutura. Essa constatação me lembra uma das máximas ditadas pelo meu pai, um catarina nativo lá das bandas do Oeste do Estado, acostumado à lida nas lavouras de tabaco: “O vadio sempre acaba trabalhando dobrado.”
Empurrar com a barriga, deixar para depois, enrolar, adiar, protelar uma decisão importante. Essa prática é tão difundida na nossa cultura que recebeu dezenas de sinônimos e expressões populares, significando que somos, não um povo, mas uma espécie animal que, com algumas exceções, prefere preservar sua energia evitando ao máximo o esforço para preservar, consertar ou construir alguma coisa. Somos programados geneticamente para a vagabundagem, e só mesmo a determinação de contrariar essa natureza é que nos fez evoluir até aqui.
Precisamos reconhecer e consertar essa nossa tendência. O grande mal desse país não é a corrupção endêmica, que apodrece nossas instituições e nos faz gastar oceanos de dinheiro em obras que poderiam custar, para respeitar a metáfora, apenas um lago ou um riacho. Nossos graves problemas são a preguiça e o medo de tomar decisões difíceis, arregaçando as mangas para trabalhar no momento certo, quando ainda seria possível consertar os nossos defeitos estruturais investindo uma fração do necessário quando a situação já está indo ladeira abaixo.
Justiça cega e surda?
O caso do deputado catarinense João Rodrigues (PSD), condenado em segunda instância, preso desde fevereiro, e que foi libertado e autorizado pela justiça a concorrer à reeleição, demonstra que a Justiça pode, mesmo em decisões colegiadas, errar em suas avaliações. Segundo as opiniões, aparentemente, mais aceitáveis, o parlamentar foi vítima de uma grave injustiça, ao ser condenado pelo Tribunal Regional Federal da quarta região, em Porto Alegre, por ter dispensado a licitação para compra de uma escavadeira, quando era prefeito de Pinhalzinho, na região Oeste. Na época, Rodrigues apenas autorizou a compra, porém, não executou o edital, não homologou o resultado e nem efetuou pagamentos.
O STJ liberou o deputado para concorrer com base na prescrição da pena, mas a impressão que ficou, entre os eleitores e analistas, foi que a Justiça errou ao condenar o político, sem que suas ações tenham, de fato, causado diretamente danos ao erário.
O caso vai servir como base para uma nova tentativa de libertação do ex-presidente Lula, que luta para reverter sua condenação em segunda instância, determinada pelo mesmo órgão que trancafiou Rodrigues.
Falta de bebedouros
Em uma região ensolarada e, principalmente no verão, sujeita a temperaturas bastante elevadas, chama atenção o fato de as prefeituras da região não mostrarem iniciativa de instalar bebedouros públicos em locais de concentração populacional. Além de contribuir para evitar casos de insolação e desidratação, colocar pontos de distribuição de água tratada pelas cidades acabaria por promover menor consumo e descarte de embalagens plásticas no ambiente. Fica a dica aos prefeitos.
Evoluímos
De Luiz Roberto Barroso, ministro do STF e vice-presidente do TSE, sobre a atual situação da atividade política no Brasil, manchada por escândalos de corrupção e pouca ética:
“Apesar das dificuldades desta hora, nosso problema não é de decadência. Nossos valores se elevaram. Ficamos mais exigentes”.