Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse pela terceira vez como presidente do Brasil. Eleito em segundo turno em 30 de outubro, o candidato do PT obteve 60,3 milhões de votos, 50,9% dos votos válidos, contra 58,2 milhões de votos (49,1%) do candidato do PL, Jair Bolsonaro. Lula tomou posse nesse domingo (1º/1) para mandato até 31 de dezembro de 2026 com Geraldo Alckmin (PSB) como vice-presidente.
Após quase duas horas no Congresso Nacional, Lula e Alckmin deixaram o Parlamento às 16h20 e se dirigiram à Esplanada dos Ministérios para desfile no Rolls-Royce presidencial e acesso ao Palácio do Planalto. A pedido da primeira-dama, não houve a tradicional salva de 21 tiros de canhão. Para evitar perturbações a animais e a pessoas com autismo, Janja pediu que equipamentos que emitam barulho não fossem usados na posse.
Lula subiu a rampa do Palácio do Planalto acompanhado da esposa, Janja Lula da Silva, e representantes do povo brasileiro, pessoas comuns escolhidas para simbolizar a população. O novo presidente recebeu a faixa presidencial de uma mulher negra, junto a uma criança, um operário e uma pessoa com deficiência. O ex-presidente Bolsonaro se recusou a participar da tradicional cerimônia de posse e passagem da faixa presidencial.
No discurso à população, Lula falou sobre superação da violência política e sobre reatar laços familiares e de amizade, encerrando animosidades por conta de disputa eleitoral. Não existem dois Brasis, somos um único povo, uma única nação; compartilhamos a virtude de não desistir nunca. Hoje a alegria toma posse do Brasil, de braços dados com a esperança”, declarou. Ele relembrou sua primeira posse, em 2003, e falou sobre um período de retrocesso no Brasil recentemente por causa da administração de seu antecessor, como a volta do combate à fome e à desigualdade.
Em certo momento do discurso, Lula chorou ao falar sobre o compromisso de combater as formas de desigualdade. Citou como principais trabalhos de seu mandato políticas para reduzir desigualdade de renda, gênero e raça, trabalho, política, acesso à saúde, educação, entre outras.
Lula repetiu feitos de seus governos, como melhoria no acesso à educação em diferentes níveis e aos serviços públicos de saúde. Houve diversas críticas ao governo Bolsonaro, tido como uma “terra arrasada” pelo novo presidente. “O que o povo brasileiro sofreu nesses últimos anos foi a lenta e progressiva construção de um verdadeiro genocídio; quero citar um parte do relatório sobre a transição, que diz que o Brasil bateu recorde de feminicídio, as políticas de igualdade racial sofreram um retrocesso, produziu-se um desmonte nas políticas para a juventude”, discursou.
Com forte aparato de segurança, até às 17h30 a cerimônia de posse ocorreu de forma tranquila, sem incidentes. Nos dias anteriores houve a prisão de um homem que pretendia explodir um caminhão-tanque com uma bomba caseira, encontrada acoplada à carroceria. O homem confessou ser apoiador do opositor político de Lula e que queria “provocar o caos na posse”.
Multidão em dia ensolarado
Famílias com crianças, jovens, idosos e adultos tomaram os lugares que dão acesso a uma vista privilegiada da cerimônia, como a lateral da rampa do Palácio do Planalto e próximo ao espelho d’agua do Congresso, desde o início da manhã do domingo. Os grupos agitavam bandeiras do partido de Lula e entoaram músicas da campanha do presidente eleito em segundo turno no dia 30 de outubro.
A temperatura elevada e o dia ensolarado na Esplanada dos Ministérios acenderam um alerta para equipes do Corpo de Bombeiros e da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Para amenizar o calor, carros-pipa dos bombeiros jogaram jatos de água na multidão. Além da posse presidencial, o festival musical do Futuro tinha mais de 60 shows programados para ocorrer até a madrugada de segunda-feira.
Direitos da população, democracia e soberania
Durante seu discurso de posse no Congresso Nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que os diretos e interesses da população, o fortalecimento da democracia e a retomada da soberania nacional serão os pilares do seu novo governo. No discurso após assinar o termo de posse na Câmara dos Deputados, o novo presidente prometeu união e respeito à lei. Disse que a atitude do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e dos demais órgãos do Poder Judiciário foi fundamental para “fazer a verdade das urnas” e que sua eleição resultou de uma frente ampla para evitar a volta do autoritarismo. “Nenhuma nação se ergueu nem poderá se erguer sobre a miséria de seu povo”, disse.
“Este compromisso começa pela garantia de um Programa Bolsa Família renovado, mais forte e mais justo, para atender a quem mais necessita. Nossas primeiras ações visam a resgatar da fome 33 milhões de pessoas e resgatar da pobreza mais de 100 milhões de brasileiras e brasileiros, que suportaram a mais dura carga do projeto de destruição nacional que hoje se encerra”, completou o presidente. Lula lembrou da sua primeira posse, em 1º de janeiro de 2003, quando se comprometeu com a soberania alimentar da população.
A mensagem do presidente foi de esperança e reconstrução. “Em 2002, dizíamos que a esperança tinha vencido o medo, no sentido de superar os temores diante da inédita eleição de um representante da classe trabalhadora. Em oito anos de governo deixamos claro que os temores eram infundados. Do contrário, não estaríamos aqui novamente”, destacou.
Segundo Lula, o diagnóstico feito pela equipe de transição de governo, será amplamente divulgado, “para que as pessoas saibam como é que encontramos o país e cada um faça sua avaliação”.
Em seu discurso durante a cerimônia de posse presidencial no Congresso Nacional, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que, nas eleições de 2022, a democracia foi testada e tornou-se a grande vitoriosa. “É possível que tenha sido o processo eleitoral mais importante de nossa história após a redemocratização. O tempo dirá.” Após seu discurso, Pacheco encerrou a sessão solene de posse de Lula e Geraldo Ackmin na presidência e vice-presidência da República.