Ter filhos, cria-los e exercer o papel de cientista não parece fácil, mas nenhuma missão é impossível para mães que lutam diariamente para conquistar seu espaço no mercado de trabalho e ao mesmo tempo proporcionar uma vida digna a seus filhos. Esse é o caso da professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais Anelise Cubas, da Unisul. Formada em Engenharia Química, mestre em Engenharia Ambiental e doutora em Química, Anelise relata os desafios de ser mãe na ciência e como concilia seu trabalho com os afazeres de casa e cuidados com os filhos.
Desde criança Anelise foi orientada pela mãe, que era dona de uma escola primária, de que existia um leque de profissões e possibilidades. “Esse olhar mais aberto e livre da minha mãe me proporcionou muitas oportunidades e escolhas como a de ser cientista e poder exercer uma profissão tão importante para a sociedade”, explica.
Dupla jornada
Anelise adequou a vida materna com a de estudante enquanto cursava o doutorado em Química. “Não foi um momento fácil, a carreira de formação cientifica é longa e precisa de muita dedicação que não fica apenas no ambiente de trabalho. Exige muita leitura e produção intelectual em casa. Na época que tive meu primeiro filho era doutoranda e ainda não existia licença maternidade para bolsista, tive muita sorte de ter orientadores compreensivos que me deixaram finalizar minha tese em casa”, conta a pesquisadora.
Apesar das dificuldades enfrentadas durante o doutorado, Anelise explica que deixar de estudar nunca foi uma opção e que contou com o apoio de família, amigos e colegas de trabalho para conciliar a tripla jornada entre trabalho, estudos e maternidade. “O coração ficava dividido entre a família e os alunos porque a profissão de professora/cientista é muito intensa, precisamos nos entregar de corpo e alma para realmente fazer uma pesquisa de impacto para a sociedade e formar estudantes com ética e competência. Ao mesmo tempo filhos também são intensos; criar, educar e participar envolve muita dedicação, é preciso ter equilíbrio e apoio familiar para conseguir gerir tudo de forma que agrade aos dois lados e o mais importante manter saúde física e mental, temos que estar bem para que todos estejam bem”, revela.
Pandemia e o choque de mundos
Com a chegada da pandemia, as realidades entre lar e trabalho se chocaram e muitas pessoas viram suas rotinas virarem de ponta cabeça, para a professora não poderia ter sido diferente. “A pandemia foi um desafio para todas as mães do planeta, principalmente para quem tem filhos em idade escolar, pois a escola tem a função não somente de ensinar, mas o propósito social de cuidar das crianças enquanto as mães trabalham”, destaca. Segundo Anelise, o trabalho acadêmico, realizado em casa, ainda teve o agravante da concentração e silêncio, fundamentais para a produção científica.
Hoje, Felipe, com 18 anos, que já cursa Engenharia Sanitária e Ambiental, e as gêmeas Anna e Lara, com 12 anos, já conseguem entender que durante 8 horas por dia a mãe pode estar em casa, mas não a disposição. Diante de tantos obstáculos enfrentados, a cientista explica que o amor pela profissão e família foram motivadores imprescindíveis. “Lembro-me de estar apresentando a minha tese de doutorado e olhar para plateia e ver minha mãe segurando meu filho que aguardava para mamar. No meu caso o apoio familiar, e colegas de trabalho, parceiros e estudantes dedicados são o que me motiva a acordar todos os dias e seguir nessa profissão que amo”, diz a professora.
Os profissionais da próxima geração
Em casa, a professora conta que em conversas e brincadeiras com os filhos a carreira de cientista pode se tornar um legado na família, mas que assim como sua mãe, quer ensinar aos filhos que eles têm um leque de opções e um mundo de possibilidades. “Tento não os influenciar quanto a profissão, mas meu filho quer seguir meus passos, no início foi um choque pois sei como a área de cientista é difícil, mas fico feliz em ser um modelo e exemplo de profissional para ele. As meninas estão jovens e tem muito a aprender ainda, mas estarei aqui para apoiá-las no que escolherem.”