Patrimônio dos catarinenses, a Ponte Hercílio Luz, em Florianópolis, passará por mais um momento histórico neste domingo, dia 15 de dezembro: a inauguração da obra de iluminação cênica. Esse é um dos principais cartões-postais de Santa Catarina. O governador Jorginho Mello acenderá a nova estrutura, que é de última geração, em uma cerimônia marcada para as 19h30.
O evento ocorrerá no Forte de Santana, localizado na parte inferior da Ponte Hercílio Luz. Caso as condições climáticas não permitam, o local poderá ser transferido para as proximidades.
Iluminação funcional
A Ponte ficou mais de 10 anos sem receber iluminação cênica. Atualmente, ela é iluminada apenas para sinalização de trânsito, incluindo veículos, pedestres e ciclistas.
“O Governo investiu em tecnologia de ponta para embelezar ainda mais a Ponte Hercílio Luz. Queremos oferecer ao morador e ao turista o cartão-postal que eles merecem. Não tenho dúvida de que a iluminação cênica vai reforçar a importância histórica desse monumento”, afirmou o governador Jorginho Mello.
O secretário da Infraestrutura e Mobilidade, Jerry Comper, detalhou que o Governo de Santa Catarina investiu mais de R$ 9 milhões na nova iluminação cênica. “Instalamos o que há de mais moderno na Hercílio Luz. A tecnologia permite diversas combinações de cores, inclusive iluminar a ponte de forma temática, como em eventos como o Natal ou o Outubro Rosa”, explicou Comper. Ele ressaltou que a Secretaria da Infraestrutura e Mobilidade operará a nova iluminação.
A iluminação cênica será ativada todas as noites a partir do dia 15. A Superintendência de Obras Civis (SOC) da SIE definirá as cores temáticas com base em um planejamento mensal.
O projeto de iluminação da Ponte Hercílio Luz envolveu um trabalho complexo. A instalação foi realizada sobre o mar, a mais de 70 metros de altura, equivalente a um prédio de 24 andares. A empresa responsável pela obra, a Quantum Engenharia, de São José, enfrentou condições climáticas adversas e levou cerca de um ano para concluir o projeto. De acordo com o Gerente do Departamento de Iluminação Pública da empresa, engenheiro Júlio César Leal Jr., especialistas treinados em alpinismo realizaram toda a instalação.
Detalhamento do Projeto
- Mais de 7.000 projetores (1.300 na silhueta, 5.600 nos pendurais e 150 nas torres), além de toda a infraestrutura necessária para o funcionamento e controle desses equipamentos;
- 124 projetores LED RGB, distribuídos em quatro modelos diferentes, principalmente nas duas torres. Esses equipamentos irão realçar as torres e estão parcialmente operacionais;
- 5.500 pontos LED RGB, localizados nos pendurais da ponte, entre as duas torres, nas laterais norte e sul. Esses pontos irão destacar elementos estruturais da ponte e também estão parcialmente operacionais.
A história da Ponte Hercílio Luz
No início do século XX, a necessidade de conectar a Ilha de Santa Catarina ao continente tornou-se urgente. O trajeto só podia ser feito por barcos e barcaças. Um vento forte ou um mar agitado podiam impossibilitar a travessia, isolando boa parte dos 40 mil habitantes de Florianópolis.
Além dessa necessidade prática, surgiram pressões para mudar a capital para o continente. Esses fatores levaram o governador Hercílio Luz a buscar uma solução. O desafio atraiu engenheiros brasileiros e estrangeiros, que apresentaram diversas propostas. Todas tinham algo em comum: a localização. O canal do Estreito foi escolhido por ser o ponto de menor distância entre a ilha e o continente.
Inicialmente, a empresa Byington and Sundstrom apresentou um projeto com viga treliçada, do tipo cantilever, comumente usado em pontes ferroviárias. Aceitaram a proposta, mas ela não avançou por dificuldades financeiras.
Logo depois, surgiu a ideia de uma ponte pênsil com barras de olhal, mais viável economicamente. Os engenheiros Steinman e Robinson coordenaram o projeto, enquanto as empresas United States Steel Products Company e American Bridge Company fabricaram a estrutura metálica.
Entretanto, o Brasil ainda não possuía produção suficiente de ferro fundido e aço para construir uma ponte dessa magnitude. Por isso, importaram todo o material dos Estados Unidos, sendo necessário o transporte por quatro grandes navios, que viajaram 9.655 quilômetros até Florianópolis. O material chegou em perfeitas condições ao canteiro de obras.
Início da construção da “Ponte Independência”, em 1922
Com o material disponível, a construção da “Ponte do Estreito”, mais tarde chamada de “Ponte da Independência” em homenagem ao governador Hercílio Luz, iniciou-se.
As obras contaram com duas frentes de trabalho. A do continente, que tinha uma área mais plana, concentrou as primeiras atividades. A parte da ilha serviu como base para montagem das outras partes. Esse formato de trabalho acelerou a execução da obra.
Hercílio Luz
Em 8 de outubro de 1924, já com a saúde debilitada por um câncer, o governador Hercílio Luz inaugurou simbolicamente a ponte. Ele atravessou uma réplica de madeira construída para o evento, liderado pelo delegado João Grumiché. Na mesma semana, o deputado Acácio Moreira propôs a alteração do nome da ponte para Ponte Hercílio Luz, e todos aprovaram a proposta por unanimidade. O governador faleceu no dia 20 de outubro.
As obras seguiram rapidamente e, 570 dias após a morte do idealizador, inauguraram finalmente a Ponte Hercílio Luz. Em uma quinta-feira chuvosa, abriram a estrutura ao tráfego. Agora, os 40 mil habitantes da Ilha de Santa Catarina puderam contar com uma nova alternativa de acesso ao continente, sem depender exclusivamente das balsas.
Inauguração
A inauguração atraiu moradores da capital e do interior da ilha. Muitos que não acompanharam as obras ficaram impressionados com a rapidez da construção e, em alguns casos, chegaram a falar em milagres. A ponte colocou Florianópolis entre as poucas cidades do mundo com uma estrutura de última tecnologia na época.
Embora a principal função da ponte fosse garantir a travessia segura, ela também visava permitir o rápido transporte de mercadorias e animais. Havia, ainda, a intenção de implantar um sistema ferroviário sobre a ponte, o que nunca aconteceu. Até 1935, cobraram um pedágio, inclusive de pedestres.
Por quase 56 anos, a Ponte Hercílio Luz desempenhou um papel crucial na mobilidade urbana em Florianópolis. No entanto, a falta de manutenção levou o Departamento de Estradas e Rodagens (DER) a interditar a ponte em 22 de janeiro de 1982. Naquele ano, a Ponte Hercílio Luz absorvia 43,8% do tráfego de Florianópolis, com mais de 27 mil veículos por dia. A Ponte Colombo Salles, inaugurada sete anos antes, tornou-se a única ligação entre a ilha e o continente.
Nos anos seguintes, reabriram parcialmente a ponte, mas interditaram-na novamente em 1991, desta vez de forma definitiva. Removeram o piso asfáltico do vão central, aliviando o peso da estrutura. Depois de quase 25 anos, o Governo do Estado decidiu iniciar a recuperação da Ponte Hercílio Luz.