Problemas com reservatório da Casan iniciaram dois meses após inauguração

Na primeira vez que a caixa d'água foi enchida, já apresentou infiltração

Uma troca de e-mails iniciada em maio de 2022 mostra que já havia indícios de problemas estruturais com o novo reservatório da Casan no Monte Cristo, inaugurado dois meses antes, e que se rompeu nesta quarta-feira (6/9), em Florianópolis. Segundo a conversa, a estrutura apresentou vazamento já na primeira em que foi usada.

As mensagens são da Defesa Civil municipal para a companhia, relatando breve histórico de que moradores acionaram os órgãos de proteção ao perceberem vazamentos na nova caixa d’água acima de suas casas, ao que o órgão foi verificar.

Por causa da solicitação da comunidade e acionamento da Defesa Civil, houve o chamado teste de estanqueidade, para verificar se o estrutura apresentava os vazamentos. Segundo as mensagens, foram mais de um teste realizado a partir de maio por representantes da Casan e da construtora Gomes & Gomes Eireli, que fez a obra.

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Em resposta à solicitação da Defesa Civil sobre o plano de trabalho e ART da obra, a então presidente da Casan, Roberta Maas, respondeu que o teste de estanqueidade era comum, mas fora o primeiro realizado no novo equipamento: “Neste caso, foi a primeira vez que foi colocada água nesses reservatórios. Porém, pela falta de informação de alguns moradores de que se tratava de um teste de estanqueidade, os mesmos acionaram a Defesa Civil e os Bombeiros”, respondeu a engenheira, em 13 de maio.

Ela complementou a mensagem afirmando que o reservatório foi então carregado e não apresentou fissuras, mas que foram identificados pequenos pontos de infiltração, situação considerada “usual em estruturas de concreto armado desse porte”. Porém, de acordo com as mensagens, o reservatório foi mantido vazio até que a construtora fizesse os reparos necessários, em até dois meses.

Reservatório novo já estava em reforma
Reservatório novo já estava em reforma, com reparos na parede que se rompeu – Foto: Street View/Divulgação/CSC

Segundo mensagem do engenheiro da Gomes e Gomes, Luiz Neto, à Casan, “ficou evidente que a questão estrutural do reservatório atendeu aos esforços sofridos” e que os “pontos necessitavam somente de reforço na impermeabilização”. A construtora, porém, atestou que a estrutura era segura.

Até recentemente moradores ainda registravam que tanto a companhia de água, quanto funcionários de empresas terceirizadas, continuavam fazendo reparos na estrutura do reservatório.

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Construído de forma diferente

As mensagens foram reveladas pelos jornalistas Ânderson Silva, da NSC, e Emanoel Soares, do Conexão. De acordo com o jornalista Renato Igor, o Tribunal de Contas do Estado também já identificou um erro grave na construção da caixa d’água de 8 milhões de litros: foi feita com paredes com dimensões diferentes do que o determinado pela licitação. Engenheiros do tribunal estiveram no local ainda na quarta coletando dados e identificaram os primeiros erros. Segundo o órgão, a análise completa sobre a obra ainda está em execução.

Construtora fez mais obras

A empresa Gomes e Gomes Eireli, contratada para a construção do reservatório no Monte Cristo, também fez o novo reservatório de São José, no bairro Forquilhinha, com modelo similar ao do Monte Cristo e capacidade de 5 milhões de litros. As estruturas custaram financiamentos de R$ 6,6 milhões e R$ 5,6 milhões, respectivamente, realizadas na mesma época.

Por causa do incidente do colapso do reservatório construído pela Gomes e Gomes, que afetou quase 400 pessoas na comunidade do Sapé, no bairro Monte Cristo, a Casan determinou uma inspeção em todas as 1.030 estruturas de reservação de água limpa no estado até a próxima quinta-feira (14/9); dessas, 483 são de concreto.

A estutura colapsada no Monte Cristo será demolida. No local há também outra mais antiga, com capacidade menor (4 mil m³), que segue em operação.

MPSC inicia apuração

A 29ª Promotoria de Justiça da Comarca da Capital, com atribuição na área do direito do consumidor, instaurou inquérito civil e está requisitando uma série de informações e perícias a fim de esclarecer os fatos e quantificar o número de atingidos e a extensão dos prejuízos. À concessionária do serviço de água e esgoto da capital, o promotor de justiça pediu relatório explicando o que causou o rompimento, quais as medidas adotadas – tanto preventivas quanto paliativas – qual a extensão dos danos, quantos imóveis foram atingidos e como será realizado o levantamento das pessoas prejudicadas e seu ressarcimento.

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