São José se divide em regiões com crimes diferentes, diz o delegado Manoel Galeno

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O delegado da DIC de São José, Manoel Galeno: “não tenho pretensões políticas” - Albano Aquino/CSC

Em entrevista ao Correio de Santa Catarina, o delegado mais antigo em atuação em São José, Manoel Galeno, fala sobre a criminalidade na cidade, políticas de segurança pública, os casos recentes de repercussão e a veiculação de seu nome como possível candidato nas próximas eleições municipais.

Natural de Brasília, Galeno tem 40 anos e está há 10 em São José. A delegacia que comanda desde a criação há cinco anos, a DIC (Divisão de Investigação Criminal), da Polícia Civil, é responsável por tratar dos crimes “sem autoria”. É o caso, por exemplo, da morte de Josiane Marques, atingida no pescoço por uma linha de pipa com cerol na Via Expressa.

Criminalidade e casos em São José

Correio – Por quê foi criada e qual o foco do trabalho da DIC? Trabalham com setor de inteligência, dados e o que mais?
Delegado Galeno – Na época, quando a DIC foi criada, o único município de Santa Catarina que não tinha DIC era São José. Ela tem atribuição para investigar homicídios sem autoria, roubos sem autoria, sequestros e tráfico de drogas. São os crimes de repercussão. É uma unidade especializada, com cinco agentes. O trabalho é tudo isso. A gente precisa do policial antigo que tem os informantes, precisa do agente que manje de computador para poder cruzar as informações com grandes bancos de dados. Mas o policial da DIC tem que ser o faz tudo, até o delegado, o escrivão. Geralmente num dia normal sem ocorrência trabalhamos das 13h às 19h, mas se tiver homicídio na madrugada a gente é acionado.

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Correio – Nesses cinco anos qual a avaliação no crescimento de crimes em SJ investigados na DIC? A criminalidade aumentou ou reduziu?
Del. Galeno – Os latrocínios que ocorreram em São José todos foram resolvidos, foram oito de 2015 para cá. Teve dois que foram de repercussão que eu me recordo: o de um empresário do ramo alimentício, no Floresta, que foram roubar a caminhonete dele, mataram e depois conseguimos pegar os assassinos em Curitiba; e teve o caso que entraram na casa da prefeita (Adeliana Dal Pont). Foi um roubo, eram quatro pessoas que entraram na casa dela e levaram alguns objetos e a gente conseguiu resolver, os quatro foram presos.

Correio – Atualmente estão investigando o caso da Josiane Marques, morta por uma linha de pipa. E quais outros casos que estão trabalhando?
Del. Galeno – Esse da linha de pipa é um caso difícil. Sabemos que foi um menor, estava soltando pipa, a gente já tem o apelido dele, só que há dificuldade para identificar esse menor, porque logo depois que a PRF atendeu o local do crime tinham mais de cem linhas de cerol, então a dificuldade é grande para provar. Teve o caso do Kerby Tingue, aquele Haitiano que foi empurrado na BR 101 e que já tem mandado de prisão contra o autor, que está foragido. Teve outro caso bastante complicado neste ano, o do argentino Bergonzi, ali no Floresta, que deceparam os órgãos genitais dele e fizeram um pentagrama na parede com o sangue dele. Os dois suspeitos já estão presos, vai ter júri agora deles.

Correio – Qual sua avaliação sobre a criminalidade em São José?
Del. Galeno – Na verdade são dois aspectos. Na região do José Nitro, Dona Wanda, Boa Vista, Vila Formosa, Pedregal, ali a atuação das facções criminosas é grande. Elas disputam o controle do tráfico de drogas na região, tanto que 80% dos homicídios são referentes à guerra entre as facções criminosas e nós estamos atuando bastante ali. Na Fazenda do Max também tem. E a outra questão é Campinas e Kobrasol. Ali muda o tipo de crime, porque pessoal tem o poder aquisitivo maior então fomenta o roubo, o furto. São crimes patrimoniais, tanto que quase não tem homicídio em Campinas e Kobrasol.

Correio – Continua tendo muito conflito entre as facções?
Del. Galeno – Esse homicídio que teve da menina no Serraria, o pai dela era faccionado. Mas a polícia aqui atua bastante. Quando a polícia bate de frente ao tráfico de drogas é direto o índice de roubos, furtos e homicídios que diminuem, tanto que ano passado a gente estava batendo – “a gente” é a Polícia Civil, Militar e Guarda Municipal – desde a biqueirinha até os grandes traficantes e no ano foram poucos homicídios sem autoria, porque a repressão ao tráfico estava constante.

Políticas de segurança pública

Correio – Ali em Campinas e Kobrasol tem muita biqueira?
Del. Galeno – Se vê pela quantidade de craqueiros que ficam ali no viaduto e ali especificamente não é só o fato de ter usuário, é porque eles furtam e roubam para manter o vício. Mas tem o comerciante que compra, esse é o problema.

Correio – E isso não pode ser fechado?
Del. Galeno – Alguns já foram autuados em flagrante, mas eles conseguem reabrir. Acredito que isso é mais uma questão de o governo municipal e estadual tentar de alguma forma proibir que esse tipo de comércio continue quando comprovado que adquiriram produtos oriundos de roubos. Precisaria de uma ação conjunta entre Florianópolis e São José, fica bem na divisa tem loja dos dois lados. O Bolsonaro fez uma lei no início do ano que seria uma solução no problema do morador de rua usuário de drogas, desde que comprovado que ele seja dependente químico, que é a internação involuntária, compulsória.

Correio – Acredita que essa medida reduziria a quantidade de gente na rua, seria uma solução?
Del. Galeno – Seria uma solução desde que depois dos noventa dias o poder público possa oferecer para o dependente químico condições para ele voltar a uma vida normal, fornecer qualificação para conseguir emprego, senão não adianta nada, deixa o cara 90 dias internado para desintoxicar e quando ele terminar o tratamento ele volta para as ruas. O poder público tem que oferecer uma alternativa para o cara poder se equilibrar na vida.

Correio – A ausência de um cadeião em São José prejudica alguma coisa?
Del. Galeno – Na verdade aqui tem em São Pedro de Alcântara e tem o Case em Barreiros (para menores). Os nossos presos da DIC ou a gente leva para a Central de Polícia, e depois eles são encaminhados para a penitenciária em São Pedro, ou a gente leva direto para a Agronômica, quando tem vaga. A gente oficia o juiz para que ele dê entrada do preso na penitenciária e o estado cumpre.

Correio – Com a liberação de porte de armas, o crime aumentou? As apreensões de armas na cidade são de origem ilícitas ou licitas?
Del. Galeno – Eu acredito que o cidadão de bem tem o direito de defender a família. Você está com a tua família ali e chega alguém para assaltar, se você estiver armado você não vai deixar. Para tirar o porte de armas tem vários requisitos, se a pessoa cumpriu os requisitos porquê não autorizar ela a ter uma arma? O direito da pessoa se defender e defender sua família isso é importante.
As armas de origem ilícitas são grandes as apreensões. No ano passado, juntamente com a 1ª DP, apreendemos um arsenal praticamente. Foram seis pistolas e três fuzis ali em Potecas, eram de facção criminosa.

delegado prende em flagrante assaltantes em sao jose
O delegado Manoel Galeno passava pela Rua Coletor Irineu Comelli, no Centro Histórico de São José, quando viu assalto e prendeu dois ladrões em flagrante – Imagem: Reprodução/CSC
Política e Eleições 2020

Correio – O senhor tem pretensões políticas em São José? Pretende ser candidato nas próximas eleições?
Del. Galeno – Na verdade me sondaram, sei que meu nome está sendo veiculado aí, mas no momento, pensando na questão da criminalidade, estou focado no meu trabalho, que é trabalhar pela polícia. Fico bastante feliz de meu nome estar sendo lembrado, isso demonstra que apesar das dificuldades o trabalho está andando. Acredito também que por causa dessa onda de renovação de lei e ordem, do presidente Bolsonaro, naturalmente os nomes da segurança pública acabam tendo um destaque, mas no momento a minha preocupação é só a polícia.

Correio – É filiado a algum partido?
Del. Galeno – Fui convidado por alguns, mas acho que é prematuro, tem muitas questões para serem resolvidas na polícia e como estou envolvido diretamente ali tenho que focar nisso, no serviço. Meu nome surgiu naturalmente, não fui atrás de nada, vou continuar trabalhando com foco na polícia. No momento não tenho nenhuma pretensão política. Vou continuar na polícia porque tem muitos casos ali que dependem do delegado diretamente. Em São José eu acho que o delegado mais antigo sou eu, justamente por conhecer a região eu sei que se não estiver em cima, tem que focar no serviço.

Correio – Já teve que atirar em alguém em serviço?
Del. Galeno – Já. Teve dois confrontos, um em 2011 e outro em 2015, que era uma situação de risco com a equipe. Na verdade, a gente não é pago para morrer, a gente é pago para proteger a sociedade. Se o cara apontar uma arma para mim ou para qualquer policial que trabalha comigo eu não penso duas vezes.

Correio – Qual a dificuldade da polícia hoje?
Del. Galeno – Pessoal, mais efetivo.  O governador está chamando, acho que vai ter concurso agora de delegado, só que a preparação é de médio prazo e os casos são urgentes.

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