Seca no Oeste catarinense chega a R$ 3,7 bilhões em prejuízos

    Leito do Rio Uruguai está quase seco, como ocorreu em 1978

    Seca tem sido mais intensa no oeste catarinense nos últimos 3 anos. Fotos: Antônio Carlos Mafalda/Mafalda Press/Divulgação

    A imagem de um menino e de um homem atravessando a pé o leito do Rio Uruguai, onde só há um fio de água, de uma margem a outra, no verão de 1978, jamais será esquecida pelo engenheiro agrônomo Sidinei Egon Simon, gerente regional da Epagri de São Miguel do Oeste, a 655 quilômetros de Florianópolis. Afinal, ele era a criança, que aos 6 anos de idade deixou-se guiar pelo pai na aventura. O momento inesquecível marcou o primeiro contato direto de Sidinei com o fenômeno que mais tem assolado o Oeste catarinense, especialmente o Extremo Oeste: a estiagem.

    O déficit hídrico castiga a região há três anos e, devido ao fenômeno La Niña, há uma irregularidade grande na distribuição das chuvas, que têm sido pontuais. Quando chove, a chuva é torrencial em São Miguel do Oeste, mas não ocorre nos municípios vizinhos, como Guaraciaba, a 15 quilômetros de distância.

    Faltando 18 dias para o verão terminar não há lugar para profecias otimistas: “Vai ser um ano bem difícil. No passado recente tivemos anos com abundância de produção intercalados com sequência de anos ruins. O que as pessoas antigas diziam, a gente vem comprovando na prática”, analisa Sidinei. “A situação permanece mais ou menos do mesmo jeito, mas não se comenta, porque a gente acaba se acostumando com a situação difícil e vai se ajustando”, justifica.

    Sidinei: “a gente se acostuma com a seca”
    Publicidade

    E dê-lhe sobreviver a dias marcados pela sensação térmica de 40 graus, uma vez que a brisa do Litoral não consegue ultrapassar a barreira da Serra do Mar. A combinação de falta de chuvas e de calor potencializa uma cadeia de prejuízos, como informa o engenheiro agrônomo:

    – A seca tem trazido perdas muito grandes para Santa Catarina. A estiagem em janeiro fez com que algumas culturas não pudessem ser implantadas, principalmente a soja. Houve também algumas quebras na cultura de milho e de soja. A perspectiva é de uma diminuição sensível nas produções de milho, soja e de leite. De acordo com a Epagri/Cepa, o somatório dos males sofridos pela agricultura familiar catarinense desde o ano passado, por conta das chuvas irregulares, já chega a R$ 3,7 bilhões.

    Os prejuízos nas lavouras associadas, muitas vezes, à falta de água para bancar os 20 litros ingeridos diariamente por uma única vaca, por exemplo, já levaram 125 municípios catarinenses a declarar situação de emergência junto à Defesa Civil estadual. Boa parte deles pertence à Ameosc (Associação dos Municípios do Extremo Oeste de Santa Catarina) região para a qual estão voltadas as ações da Gerência Regional da Epagri de São Miguel do Oeste.

    Seca afeta todos os afluentes na bacia do Rio Uruguai, reduzindo disponibilidade para agropecuária

    O Governo do Estado tem envidado esforços no sentido de tentar resolver a situação da estiagem no curto e no longo prazo, salienta Sidinei. Mas espera também alguma ação de enfrentamento de parte do Governo Federal. Ele conta que em breve Santa Catarina vai trabalhar com recursos próprios para a realização de infraestrutura, de modo a minimizar os efeitos dos próximos períodos de seca. O objetivo é continuar a ampliando a capacidade de armazenamento de água da chuva nas propriedades rurais com a instalação de cisternas e reservatórios.

    Graças à atual, a empresa Barca Aliança, responsável pelas balsas que fazem a travessia entre o Rio Grande do Sul (Barra do Guarita) e Santa Catarina (Itapiranga) está enfrentando dificuldades para atracar nas duas margens devido ao rebaixamento do nível da água.

    Por Imara Stallbaum

    Publicidade