O artista plástico Lourival Medeiros resolveu moldar a maior peça de sua carreira. Desta vez, o material não é o barro na olaria, e sim a madeira de garapuvu para fazer uma canoa tradicional.
Val, como é conhecido, já tinha a ideia de esculpir de modo artesanal uma canoa “de um pau só”, e alguns fatores o motivaram ao desafio.
“Sempre pensei em fazer uma canoa de modo tradicional, mas a ideia melhorou quando pensei em registrar todo o passo a passo de como fazer, para no futuro quem quiser poderá ter uma orientação”, diz ele.
Sabendo de uma árvore já em estado final de vida na Enseada de Brito, em Palhoça, ele conseguiu a doação do tronco e decidiu que todo o processo será transformado em um livro, em projeto denominado “Com quantos paus se faz uma canoa”.
O projeto é tocado entre quatro pessoas. Além de Val, executando a peça, três mestres canoeiros – figuras já rareadas no litoral catarinense – o orientam na confecção, falando sobre as dimensões e métodos de retirada de volume. Zico, da Costa da Lagoa, Seu Anselmo, da Enseada de Brito, e Neca, da Lagoa de Ibiraquera, são os mestres canoeiros remanescentes da região que dão dicas e detalhes para acertar a canoa.
O progresso é registrado por dois fotógrafos – Nini Machado e Suzete Sandim – para depois virar o livro-manual, recheado de procedimentos, relatos de mestres canoeiros e também de quem usa as embarcações para pesca.
O tronco chegou ao Beco da Carioca – Centro Histórico de São José, endereço da olaria de Val e local onde é feita a embarcação – em dezembro do ano passado, medindo 3,4 metros de circunferência, 6,5 metros de altura e pesando mais de 7 toneladas.
Enxó e machado são as duas principais ferramentas que Val usa em seu trabalho. A dimensão final da canoa será de 98 centímetros de boca, 6,5 metros de comprimento e capacidade para até dois mastros. O modelo servirá para pesca e principalmente para o esporte da vela.
Val pretende terminar a embarcação para a 3ª Corrida de Canoa à Vela de São José, que acontecerá em 30 de março próximo, na praia do Centro Histórico.
“A canoa é um patrimônio histórico do litoral, uma tradição antiga que tem origem com os indígenas, e que depois foi adaptada para os açorianos”, fala Val sobre a importância da embarcação na cultura e na história catarinense.
Enquanto é entalhada, a peça está em exposição no local e, depois da corrida, será para o uso no mar propriamente.